segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Para além das coisas maiores do universo - Ana Paula Lisboa

Odeio quem me faz chorar.
Odeio quem não me deixa dormir e
Me obriga a acordar cedo.
Odeio quem diz que me ama, que não quer me perder,
Quem diz que não sabe viver sem mim.
Odeio quem me faz sentir uma filha da puta,uma dessas
Que não valem nada.
Odeio quem me deixa estática, com cara de boba
Olhando pro vazio do mundo e refletindo
Sobre todas as merdas que faço.
Odeio quem faz eu me sentir velha
E responsável por todas as mazelas do
Mundo contemporâneo ocidental.
Odeio quem me faz escrever assim,
Escritas reveladoras das minhas fraquezas.
Odeio quem segura meu braço
Como se segurasse minhas asas.
Mas eu odeio bem mais quem
Me faz chorar.
Eu odeio mais, muito mais, quem
Me faz chorar.
Odeio incondicionalmente, incontrolavelmente,
Indiscutivelmente para além das coisas maiores
Do universo quem me faz chorar,
Quem me faz sangrar todas as horas do dia e
Derramar de mim mesma, pelos olhos, minha criptonita.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

nem quando chega - Ana Paula

até que em fim encontrei alguém que não me ama.
até que em fim alguém que me olha de cara feia e
que não faz questão de me dar dois beijinhos
nem quando chega,
nem quando sai.
sorte minha eu ter na vida alguém tão espírito de porco
e que por não me amar se acha a rainha da cocada branca,
já que eu sou a rainha da cocada preta.

foi realmente uma benção encontrá-la:
de pele alva e cheirosa,
quadris arredondados,
seios grandes, nariz fino,
voz rouca aos ouvidos.
e a melhor coisa do mundo é saber
do seu ódio por mim, é saber da
inveja que ela sente só pela minha simples presença
e ouvir seu coração disparado de desamor.
minha musa zonasulense, se pudesse, me chutaria
com seus sapatinhos de boneca.

eu encontrei o verdadeiro não-amor,
tem gente que busca isso a vida inteira.
e agradeço a Deus todos os dias
a maravilha que é não ter o seu amor por mim.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Memórias de tomar um todinho - Ana Paula Lisboa

Era leite e isso devia me assustar, mas era preto e isso era familiar. Açucarado sabor chocolate, quadradez anatômica, nutrição rica, atração ordinária pela cor. Perfeito para menininhas raquiticas ainda que a mulher corra para verificar as calorias. Canudinho na boca. E o vômito depois de uns três minutos. Tudo hoje, 20 anos depois.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Para um amigo que fiz no escuro – Ana Paula Lisboa

Como ninguém pôde eu posso.
Eu pude e achei que poderia sozinha,
Mas encontrei outros que também puderam comigo.
Um em especial:
Sentou-se ao meu lado e me deu de comer:
Frango e batata frita.
Sem nem ao menos saber que me apaixono
Por quem me dá de comer.
Ele comentava alto,
Me cutucava,
Perguntava das partes que não entendia
E isso me pareceu tão bom que eu só sorria.
Ficamos íntimos
Sem nem ao menos saber seu nome.
E já havia esquecido o meu a essa altura.
Foi um encontro às escuras e
Como eu estava sentada
Ele não pôde olhar minha bunda
E tirar conclusões precipitadas.
Foi obrigado a me olhar nos olhos
Logo no primeiro encontro.
Eu poderia sentir saudades dele,
Desse que alegrou a minha noite
E que fez de um filme sem beijo na boca
Parecer um romance.
É uma pena ser ele tão descartável e
Nem ao menos saber
Desses versos a ele dedicados.

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