quarta-feira, 31 de março de 2010

Fazer - Ana Paula Lisboa

HOJE VOLTEI A CANTAR
CANTO BAIXINHO
CANTO POQUINHO
CANTO SAUDADE
CANTO AMOR

NÃO SEI CANTAR

MAS CANTANDO...

EU SEI QUE VOU TE AMAR
NO PEITO DOS DESAFINADOS TAMBÉM BATE UM CORAÇÃO

EU SEI EU CANTO SÒ PRA MIM
SÓ PRA EU OUVIR

EU, O COMPUTADOR, A MESA
O RED FONE
A CALCULADORA
O GRAMPEADOR
AS CANETAS
A CANETA AZUL
A FAMOSA CANETA AZUL

MEU PUBLICO É VASTO
MEUS OUVINTES SÃO MUITOS

MEUS FÃS ME AMAM
E EU NÃO OS ODEIO MUITO
SÃO ELES QUE ME DÃO O PÃO.

QUERO PARAR DE CANTAR
TENHO MAIS O QUE FAZER.

Desejo... - Ana Paula Lisboa

Desejo, palavra, beleza, memória e fé.

ME DA UMA VONTADE, UM APERTO
TENHO TIDO MUITOS APERTOS ULTIMAMENTE.

TUDO ME APERTA.
SERÁ QUE EXPANDI?
MAS PRA ONDE, TEM DIA QUE ME SINTO TÃO PEQUENA.

E OS DIAS...

DESOBRI HOJE QUE AO INVÉS DE LAMENTAR TEM QUE SER DIFERENTE, DIFERENTE MUITO.

QUE VONTADE!
QUE DESEJO!
QUE FOME!

COMER, COMER:É O MELHOR PARA PODER CRESCER

BRANCO... - Ana Paula Lisboa

Branco.
Se tudo fosse branco,
Claro, nevado.
Leve e magro.
Forte. Traços.
Só por fora e por dentro.
Por dentro é leve,
É branco de magros
Traços.
É indecifrável e se faz presente.
Um presente.
Presente do Pretérito,
Mais que imperfeito.
Duplicador de imperfeições,
Multiplicador de curiosas delícias.
Delícias cor de bolo.
Bolo de noiva,
Branco, leve e nevado.
Cheiro de surpresa no ar.
Cheira a musica, musica branca.
Rebelde musica que enche os olhos,
Enche o peito e enche os ouvidos.
Curiosas e deliciosas imperfeições humanas.

Ana Paula Lisboa

terça-feira, 23 de março de 2010

Nunca mais - Ana Paula Lisboa

Véspera
Vespertino
Inesperado
Morrer de véspera, tipo peru.

É amanhã que tudo acontece...

To com raiva, raiva de continuar vivendo e esperando.
Esperar
Espera constante que nunca se acaba, nunca termina, nunca se cansa.
Só espera.
Pior esperar o que nem se sabe o que é.
Vou parar de escrever.
Nunca mais!

Som de Chuva - Ana Paula Lisboa

Chuva faz barulho, chuva faz sinal.
Sol e chuva: casamento de viúva.
É morreu mesmo.
Morreu pra sempre?
Que saudade, que nó no peito...
Por que algumas pessoas fazem isso na gente?
Uma imagem já trás felicidade.
E trás desejo, que desejo eu desejo.
Borboletas no estomago, sejam bem-vindas de volta.
Quero vocês pra sempre em mim

Renda - Ana Paula Lisboa e Eliza Moreno

Entremeio Maria Morena do coração desencontrado.
Ponta luz do dia:
Pontilha florada,
Bico das margaridas.
Renda céu estrelado,
Renda esganada,
Renda bicuda.
Bico de rainha.
Bico de abandono.
Renda água de pote,
Renda estrada de ferro,
Renda tramóia.
Entremeio do coqueiro:
Entremeio da pestana,
Bico da jibóia.
Entremeio do sabão:
Bico da aliança,
Bico de pé de coelho.
Aplicação do camarão:
Aplicação do abacaxi,
Renda de coentro.
Entremeio Maria Morena do coração desencontrado.

O Fio - Ana Paula Lisboa e Eliza Moreno

O fio. O fio colorido. O fio grosso. O fio leve.
O fio fino. Um fio.
Apenas um.
Um que fosse fio semeado.
Que tivesse cheiro de chão.
Um fio zelado.
Porque tem que zelar.
Zelar do sol. Zelar da chuva. Zelar da terra.
Zelar de bicho. Zelar de gente. Zelar de si.
E aí eu colhi. Colhi com a mão.
E enquanto desencaroçava desconhecia-me,
me livrava de quem poderia ser,
pois podia ser milhares de outras coisas.
Um fio que faz tapete é o mesmo que faz cobertor?
Si ni um a gente pisa, si ni outro a gente deita.
Si ni um a gente bate, si ni outro a gente abraça.
Si ni um os fios perpassam espremidos,
ni outro os fios se tramam aconchegantes.
Si ni um se faz pensando no inimigo,
ni outro se faz pensando no filho.
Seguiria sendo fio, aquele fio
que precisou de um começo para existir
mas não sabia seu fim.
Seguiria sendo assim... começo...
meio... sem fim...

A Dona da Casa- Ana Paula Lisboa

Tive cinco, cinco filhos com meu marido, que era pra ajudar na roça, mas veio tudo mulher. A roça sustentava a casa e meu marido era o dono da roça.
Eu e as menina passava, lavava e tecia, que ensinei tudo a tecer que nem a mãe me ensinou. E eu era a dona da casa.
Aí um dia, o que era dono de mim e dono da roça, Deus levou. Minha mais velha ficou como dona da casa e eu virei a dona da roça.
Aí um dia eu chorei, chorei que molhei a roça toda, ficou tudo quase lama. Mas não parei de trabalhar mesmo chorando, que choro não faz brotar nada, só o trabalho é que faz.
Aí um dia eu ajoelhei, ali mesmo. E com o joelho na terra pedi a Deus que me desse um modo certo de sustentar eu e as menina, mas sem aquele sol na molera e a saudade do dono do meu coração.
Aí eu adormeci e sonhei que tava tecendo, eu e as menina. Era uma colcha, mas não aquela que a mãe me ensinou e eu ensinei pras menina. Era uma nova, que os desenho do pano nascia junto com o pano.
No sonho eu via os ponto de longe, depois via os ponto de perto, depois eu fazia o ponto e eu era o ponto tudo junto. Aí eu olhava pro lado e via minhas menina fazendo ponto e elas era ponto junto comigo; aí eu olhava pro outro e via as vizinha fazendo ponto e elas era ponto junto comigo.
Aí eu olhei denovo e tava pronto. Era colcha, e era colcha que tinha um jardim verde, verde. Tu não via um pedacinho de terra de tanta árvore, de tanta fruta, de tanta plantação. E a gente ficava tudo em volta olhando, olhando e não cansava o olho de olhar nosso trabalho.
Aí eu acordei e só queria tecer, mas tava escuro ainda. Fiquei na porta esperando o sol e quando vi uma pontinha dele corri pro tear.
Não fui pra roça, não. As plantas não ia morrer num dia, mas eu ia morrer se não tecê. Tinha hora que eu fechava o olho assim, e lembrava, e tecia mais ainda. Nem lembro se eu comi, se eu bebi nesse dia, só sei que eu teci.
Aí eu ensinei pras menina, ensinei pras vizinha e todo mundo pegou rápido, parecia até que elas tinha sonhado junto comigo.
Mas não esqueci de agradecer a Deus, porque depois de aí, eu Antonia, voltei a ser a dona da casa.

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