terça-feira, 23 de março de 2010

O Fio - Ana Paula Lisboa e Eliza Moreno

O fio. O fio colorido. O fio grosso. O fio leve.
O fio fino. Um fio.
Apenas um.
Um que fosse fio semeado.
Que tivesse cheiro de chão.
Um fio zelado.
Porque tem que zelar.
Zelar do sol. Zelar da chuva. Zelar da terra.
Zelar de bicho. Zelar de gente. Zelar de si.
E aí eu colhi. Colhi com a mão.
E enquanto desencaroçava desconhecia-me,
me livrava de quem poderia ser,
pois podia ser milhares de outras coisas.
Um fio que faz tapete é o mesmo que faz cobertor?
Si ni um a gente pisa, si ni outro a gente deita.
Si ni um a gente bate, si ni outro a gente abraça.
Si ni um os fios perpassam espremidos,
ni outro os fios se tramam aconchegantes.
Si ni um se faz pensando no inimigo,
ni outro se faz pensando no filho.
Seguiria sendo fio, aquele fio
que precisou de um começo para existir
mas não sabia seu fim.
Seguiria sendo assim... começo...
meio... sem fim...

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