quinta-feira, 29 de julho de 2010

O Pedro dos meus sonhos - Ana Paula Lisboa

Calma aí. Só mais cinco minutinhos...
O Pedro tinha uns 13 e eu uns 12. Era inteligente com o cabelo louro e liso, de lado, cheio de gel. Um nerd era o Pedro. Pedro era meu tipo quando eu tinha 12 anos. E de olhos verdes lindos. Pedro me olha altivo no recreio e me recita poesias. Pedro eu te amo.
– Ei, 7 horas!
Pedro, à noite eu volto. Você vai estar aqui?

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Esperando-se – Ana Paula Lisboa

Ela me disse desde novinha:
– Não espere demais dos outros, minha filha.

Eu não esperava que mentirosas palavras,
Bem articuladas, ditas bem altas,
Viessem de uma boca tão gostosa.

Eu ignorei. Eu não aprendi. E esfodacei-me.

Delírio – Ana Paula Lisboa

E as borboletas?
Quem não tem cão caça com o que?
Ainda que eu quisesse que
Tudo houvesse ficado
No tivesse.
Quisera eu que a quimera fosse só sonho.
E assim já teríamos acordado.
Só tu.
Eu ia continuar sonhando.
Poderia eu pedir que me esquecesses tu?
Só tu.
Eu quero te lembrar de jamais esquecer
De contar meus nossos segredos.
Ainda que agora eu esteja gelada,
Quase morta, de mãos frias, de dedos duros,
Muda, sem poeira nos sapatos,
Sem dinheiro no bolso.
Desesperada dessa espera tua por me ouvir.

Os medos dele – Ana Paula Lisboa

Ele teve medo e foi a primeira vez, depois de anos aliviados. O pavor foi de tudo dar errado, de escrever em papel pautado, de errar a letra da musica bem em cima do palco.

Ele tem medo de ficar aqui para sempre e de nunca mais andar de trem...
Eu tenho medo de ler poemas dele escritos para outro alguém.

Ele teve medo, numa noite, de que sua avó morresse e também de nunca mais conseguir dormir.

Eu escrevo pretensiosa que
Ele tinha medo de falar comigo, de me abraçar, me beijar de língua, me chamar de linda.

Ele tem medo de sair de casa sem óculos escuros e de não saber voltar.
Ele tinha medo do escuro e vai casar com uma branca, dessas que nunca viu o mar.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

À Tarde – Ana Paula Lisboa

Cadê vc?!!!
fale
voltei
ficou com raiva do que eu falei
?
com raiva?
q isso, nunca ficaria com raiva disso.
e então...
o q então?
por q ficou chateada?
desculpe, não foi chateação. falar isso (ainda mais do jeito que foi) não me fez bem. Eu tentei não pensar nisso ontem, fingir q nada aconteceu me deitar naturalmente... mas agora eu tive q pensar...e isso faz parte, tenho feito muitas coisas sem pensar!
não tinha como não te falar isso,
passar como se nada tivesse acontecido
não dá pra chegar pra vc e não falar o que aconteceu
e tinha que te pedir desculpa por que aconteceu do jeito que aconteceu e com a situação que foi.
eu to com medo de varias coisas, de varias situações, de coisas que eu não sei se vão dar certo e de coisas que ainda nem aconteceram...e aí isso tudo me dá mais medo ainda (faz tempo não sentia medo)
mas eu te entendo sim, e não estou chateada...por nada q aconteceu
e as desculpas não cabem nisso!
desculpas me dão mais medo
então ficaremos como estamos
ta
então podemos tirar das nossas cabeças essas "desculpas" então
?
pelo amor de Deus
se tu pedir desculpas de novo, paro de falar com vc pra sempre!
uahuahuhauhauh
ok
então não pedirei
uahuahuahuah
ok?
melhor assim...
almoçarei...
ok
estarei aki esperando
voltei...
opa
oi?
vorto?
estou aki
sim...sim...
kkkkkkkkkk
engraçado esse trem de sim, sim
hahahahahahah
engraçado como coisas que não eram para ser,
acabam sendo...tipo o sim, sim...que virou palavra de poema!
não entendo
“matéria de poesia” com diria Manoel de Barros, mas desculpe,
vc não é o amigo das reflexões filosóficas
vc é o amigo das gargalhadas, das reflexões político-sociais, das tardes pervertidas, do apego melancólico, do segredo e das confissões sobre os meus medos.
Espero não perder isso quando o tempo passar!
não perderá
então tá...
ah, eu tinha q te fazer uma proposta.
vamos a ela...
qual proposta?
Essa...sem pretensão e até sem futuro...só pra experimentar...e queria te xamar pra ir junto.
seria ótimo
quando e como?
não sei...breve por favor, pra vontade não passar...e eu queria que tivesse um tema.
legal
já sabe qual?
eu só xamei vc
e o resto?
puxa, vamos pensar numa solução! sei lá...tava até falando isso esses dias, queria coisas que fossem só minhas...
bem...
preciso ir
perfeito, bju!
valew
beijin
te amul
tb te amu!

(off line)

Confirmações – Ana Paula Lisboa

Sim, sim.
Pois sim.
É.

É dessas pessoas falsas que sorriem
No intervalo de pequenas falas.

Sim, sim.
Qual pessoa traira que transa
Com o namorado da melhor amiga,
Que tira doce da mão de criancinhas.

Por que não?
Ser dessa infiel com a vida, que
Come uma folha de alface achando que é
Comida.

É.
Eu faço coisas desagradáveis para agradar,
Calo a boca quando é para gritar
E tenho prazeres em lugares escusos.
Pois sim.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

A Mudança – Ana Paula Lisboa

Eu ainda posso te contar tudo.
Você ainda pode falar baixinho.
E a gente ainda pode se olhar,dissimulados,
Entre todas as pessoas do ambiente.

Eu não posso mais gritar alto.
Você não pode mais me falar no ouvido.
E a gente não pode mais gargalhar, abraçados,
Entre todas as pessoas do ambiente.

Eu sei que ninguém sabe.
E você sabe mais que eu,
Que qualquer beijo ou “oi”, mal calculados,
Excluiria todas as pessoas do ambiente.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Pé de Alface - Ana Paula Lisboa

A gente se perde e se ganha no segredo,
Ganha um cardume do Mar Vermelho,
Um vestido cor de alface.

Calmo, sereno, lento, suave?
Tome um antialérgico,
Com suco de maracujá e
Um pé de alface verde.

Um suspiro alto.
Um gemido baixo.
Uma falta do que fazer.
“Uma dor que desatina sem doer.”
Um vazio no peito.
Uma escrita sem jeito.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Passando a vez - Ana Paula Lisboa

Passando frio
Dormindo pouco.
Ficando gorda
Passando fome.
Passando o tempo
Fazendo besteira.
Exalando loucura
Passando e-mail.
Passando mal
Bebendo água.
Passando na prova
Esquecendo as coisas.
Ficando alérgica
Passando blush.
Passando a guarda
Procurando abrigo.
Passando roupa
Sonhando demais.
Secando as lagrimas
Passando o rodo.
Limpando a vista
Passando fio dental.
Passando rimel
Lendo jornal.
Passando a régua
Vivendo.
Passando vírus
Falando.
Passando a limpo
Escrevendo.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Velhacos - Eu mesma

Aí em baixo você vai encontrar uns textos que já eram para estar aqui há um tempo. Junho foi um mês de poucos posts, do desapego, da gritaria, do tédio e de uma escrita muito melancólica. Meus patinhos feios, e como se sabe, filho feio não tem pai. Somente um nasceu com fenótipo de princesa: "Clarinha", só por que tentei imitar a lindeza da homenagiada. Mas agora parei de ter vergonha dos meus filhos, eis aqui, depois de uma plástica é claro, por que a beleza é fundamental. Fique a vontade.

Solamente - APL

Eu não te olho só.
Eu não te olho e só.
Eu não te vejo só.
Eu sempre te vejo cercado,
Amado, querido, ouvido e desejado.
Não vou suprir suas expectativas,
Tu não és só.
Só que já foi melhor.
É só olhar...
Escreves só porque queres,
Eu estava aqui, eu estava ali
E eu estava lá.
Contra tudo e contra mim,
Eu estava lá, eu estava ali.
Não esqueça da promessa
De escrevermos juntos.
Não esqueça da promessa.
Eu prometo.
Nunca fui boa em promessas...
Prometo ser essa a ultima vez
Que toco no seu nome.
Agora vou escrever a sós,
Sem a sua companhia em
Nenhuma parte do meu
Eu- Lírico.
Vou voltar a te olhar e
Pensar: Só?
Dramática eu?
Só eu?
Me deixe só.
É só.

Inveja I - Ana Paula Lisboa

Eu invejo os contentes, os satisfeitos.
Eu cobiço os saciados, os feitos.
Queria sentir o prazer dos realizados,
Dos que não precisam de mais nada
E não ambicionam mais a existência.
E admiro os normais, os certos,
Em quem não falta um parafuso sequer.
Eu me dôo quando olho para os que não
Tem desejo, para os completos.
Eu devo ser a errada em querer,
Por desejar ardentemente possuir.
A avidez é um pecado junto com a cobiça.
Mas eu não cobiço o que é dos outros.
Eu cobiço o que é meu,
O que me pertence,
O que me é de direito.
Apetecer é verbo transitivo.
E eu sinto uma fome insaciável.
Fome antropofágica de comida
Humana indecifrável.

Para ser legenda - Ana Paula Lisboa

Em breve escreverei sobre nós.
Sobre a saudade febril que sinto
De nossas mãos entrelaçadas.
O tempo não importa,
Quando voltamos a estar juntos
Ele não irá ter passado.
A minha Babilônia particular,
O meu guardador fiel,
Uma hora mais e outras menos.
Com quem eu morreria abraçada,
De quem eu comeria na mão,
A quem eu daria um filho,
Com quem eu mais gosto de brigar e
Para quem eu sempre volto
No fim do dia.
Mas por enquanto fique com esses versos,
Feios e sem graça,
Assim que aprender a escrever bonito
Escreverei sobre tudo de nós.

Dígrafo - Ana Paula Lisboa

Mexe e remexe que mexe
Com o meu coração.
Bem assim, igual a uma menininha,
Tão sutil.
Bem assim, como um furacão,
Tão febril.
E tu não passas de um H
Na minha vida,
Em nada me presta alem do dígrafo.
Com o meu A tu não falas,
Porém com o meu N e meu L
Tu se fartas.

Desapaixonando-se - Ana Paula Lisboa

Desapaixonar é verbo transitivo.
Ou será intransitivo?
Não, ele precisa de complemento.
Direto. Ou indireto?
Preposições são sempre bem vidas,
Qualquer ajuda é amiga nesse momento.
Pronto.
VTDI

Desapaixonar-se é trabalho de casa de Física.
E deve ser feito
No dia em que vai passar seu filme
Favorito
Na Sessão da Tarde.

Desapaixonante é aquele emprego
Que te não te dá tesão.

Desapaixonação é o ato de conversar
Com aquela pessoa desconhecida
No ônibus com o transito parado.
Ser obrigada a ouvir tudo sobre sua vida,
Todas as doenças passadas, presentes
E futuras dela e dos filhos.
E a sua maior vontade seria só
Olhar a poluição do lado de fora.

Desapaixonite é uma inflamação
Que pode aparecer nas mãos, no cérebro e no
Coração.
Ela te bloqueia o escrever bonito e o que
Presta
Para a Literatura Brasileira Contemporânea Pós Moderna.
A pessoa contaminada fica um mês ou mais,
Dependendo do estagio,
Escrevendo apenas poemas como esse.

O melhor tratamento é o repouso cerebral.
E nem pense em ir a cemitérios, especialmente os de
São Paulo.
Os mortos de lá sentem o cheiro de poetas como nós
De longe.
Mas até mesmo o Carlos tem um poema
Chamado “Patético”.

Coisinhas - Ana Paula Lisboa

Há coisa que mexe fácil e
Há coisa que mexe difícil.
Para isso:
Tem colher de pau
E tem colher de sopa.
Eu sempre peço uma colher de chá.
E tem faca de manteiga.
Tem faca de pão.
E tem gente que só usa a peixeira.
E tem peixe de rio,
Tem peixe do mar.
E tem quem pesca em lago particular.
E tem o que é particular,
Tem o publico,
Que é aquilo que conto pra todo mundo.
E tem a rua,
Tem a calçada
E eu subo no palco descalça.
E tem palco que dança.
Tem palco que treme
E tem palco que encanta.
Tem encanto de hora certa e
Tem encanto inesperado.
Tem encanto que faz poesia.
Tem poesia de hora errada,
Tem poesia que vem picada e
Tem poesia que se escreve sozinha.
Tem sozinho de hora marcada,
Tem sozinho que queria ser junto
E tem sozinho bom de escuro.
Tem escuro que é de dia.
Tem escuro que queria ser claro,
E tem escuro de escrita.
Tem escrita em papel solto,
Tem escrita que é mentira,
Tem escrita que é louca.
E tem louco pra tudo.

Clarinha - Ana Paula Lisboa

Tão alva e
Tão bela e
Tão clara.

Tão clara e
Tão bela e
Tão calma.

Tão serena.

Tão da lua e
Tão mar e
Tão chão de terra.
Tão pé no chão
Que parece voar.

Tão flor e
Tão mato e
Tão da rua e
Tão de fato.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Sábado - Ana Paula Lisboa

Banho gelado para acordar.
Uma pedra de gelo para chupar.
Mas na verdade eu prefiro quente.
O quente do nós,
De mim, da minha fé,
Do cobertor, do casaco felpudo que me dá alergia,
Da meia, do edredom de casal,
Do perdão e do esquecimento desmemoriado.

Travesseiro - Ana Paula Lisboa

Meu travesseiro já está cansado e disforme.
Ah, se meu travesseiro falasse...
E eu, farta paralítica, espero mesmo que ele continue mudo.
Um travesseiro falante seria o meu fim.
Ele falaria dos sonhos,
Das lágrimas,
Do imenso ódio,
Dos versos nunca escritos,
E pior,
Dos pensamentos impensados.
Aqueles que andam, giram, viajam e
Terminam sempre no mesmo lugar.
Aquele lugar daquela lembrança
Daquele dia que nunca aconteceu.
Por isso sempre morei em casas,
Dois andares já me bastam.
Residir em prédio me daria uma imensa vontade de voar.
E aqueles segundos breves de vôo livre,
Antes de me estatelar no chão,
Seriam perfeitos.

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