sexta-feira, 30 de abril de 2010

Tatuagem - Ana Paula Lisboa

Tatuagem é coisa que só dá em ser humano.
Tatuagem não dá em bicho.
Mas tem gente que desenha animal,
Tem gente que desenha gente
E escreve nome de pessoa.
Eu escrevi o que me é importante,
Escrevi para não esquecer mais.
A dor foi complemento do
Prazer de ver o vazio ficando cheio,
O nada virando alguma coisa.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Do Mal - Ana Paula Lisboa

Agora deixe-me falar um pouco.
Devo confessar meu pecado.
Eu não sou boa pessoa.
Sou do lado negro da força.
Eu sei, isso é feio, mas não consigo evitar.
Eu uso as pessoas.
Uso pessoas para escrever,
Uso pessoas para ler,
Uso pessoas para me ouvir.
Algumas pessoas, bem específicas, eu uso
Pra me fazer feliz.
Também uso pessoas para me deixarem acordada e
Outras para não me deixarem dormir.
Eu finjo e interpreto vários personagens.
Sou boa nisso, vivo um personagem há 22 anos.
E muita gente acredita...
Às vezes eu sou a Aninha, boazinha, compreensiva,
Quase uma princesinha.
Tem gente que me chama de Paulinha, uma gracinha de menina.
Eu gosto de ser a Ana, amiga, sensível, segura de si e muito feliz...
A Kátia, minha progenitora, me chama de Ana Paula...só ela me conhece...
Eu sou do mal.
Pareço simples...mas a complexidade é meu segundo nome, na verdade o terceiro.
Uma pessoa com dois nomes não pode ser simples,
Desde que aprendi a escrevê-lo fiquei confusa.
Qual meu nome de verdade?
Esse negocio de nome composto só serve para complicar.
Fico sem saber quem sou, me chamam de vários nomes,
Às vezes sobrenomes, as vezes Antonia...
Antonia eu adoro, mais um personagem na galeria.
Mas do mal sou eu...a Antonia é do bem.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Palavra - Ana Paula Lisboa

Escrevi no corpo quanto a amo.
Cravei na pele a minha paixão.
Gravei a fogo a fome e a vontade,
O desejo e o tesão,
A alegria e a angústia.
Ela me possui...
Meu substantivo feminino
Favorito, predileto e preferido.
Agora sou completamente dela...
Está consumado, não posso voltar,
E nem quero!
Assim como nada, não me arrependo.
Nem do choro,
Dos encontros,
Do beijo,
Da tatuagem...
Eu a beijei, e foi de língua.
Eu devia me arrepender?
Desculpe, não consigo,
Foi tão bom...
E a dor deu um gosto
Mais especial.
Não foi da PALAVRA
Foi no beijo, do toque no corpo,
Da possessão entre duas
Figuras femininas

terça-feira, 27 de abril de 2010

Poesia - Ana Paula Lisboa

Ele ficou louco quando me viu.
Assim, boquiaberto, de quatro,
Sem nexo, sem lenço e
Sem documentos.
Ficou encantado...
Babou pelo meu rebolado e
Veio logo cheio de dedos.

Prostrou-se bem embaixo
Da minha janela.
Me fez serenatas cantando
Melodias sem igual, que
Ele mesmo escreveu pra mim.

Feito um bebê faminto
Chorava implorando que eu
O deixasse meus lábios tocar.
Mas eu dizia que não.
Que moça direita não faz
Dessas coisas.
Que moça donzela e mulata
Não pode ficar mal falada.

Um dia sem avisar, para que
Sua esperança não fosse em vão,
Dei a ele minha mão, para
Que pudesse segurar.
Um arrepio tamanho me
Percorreu o corpo, um sabe
Lá o que me arrepiou a espinha
E uma escola de samba
Tocou no meu peito.

E aí eu comecei a dançar sem musica,
Passei a escrever poesia.
E agora eu cantava alto
Pro mundo musicas
Que antes eu nem conhecia.

Papai diz que não.
Que filha dele não casa com artista,
Que nasci para moço de vista e
A mãe diz que homem branco
Não traz euforia.

Eu fugi.
Fugi porque é melhor ser
Negra fugida do que ser
Negra triste.
Fugi porque a Paixão
É a melhor coisa que existe.

E um dia alguém vai contar
Nossa história. Ou que
Fique mesmo só na nossa memória
Uma antropofagia diária cheia vaidade.
E eu me ufano da urgência de te perguntar
Todos os dias se me amas de verdade.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Muito Falada - Ana Paula Lisboa

Eu falo demais.
Só falo o que não devo,
O que não presta,
O que não seve.
E falo coisas sinistras
Até sem abrir a boca.
É só me olhar e a pessoa
Logo vê que não penso
Coisas boas.
E quando abro a boca
Só me comprometo.
Só sai coisa sem valor,
Tolice, sem jeito.
Minha fala é sem modos,
Desagradável, patética.
Desmate, sinistra,
Bestice e sem ética.
Cortarei fora a língua,
Que é a língua que me condena.
Vou costurar os lábios
Com linha de aço e sem pena.
Com a língua farei sopa,
Que tudo nessa vida
Se aproveita.
Uma sopa dislexa,
Insossa, que ninguém aceita.

Quando eu resolvo escrever- Ana Paula Lisboa

Estive pensando em parar de escrever. Não que eu ache isso algo possível, mas escrever tem me trazido muitos efeitos colaterais.
Meus dentes se trancam, minha testa franze, mordo os lábios, a cabeça dói e a insônia, antes inexistente, tem se tornado constante. As noites não são mais como antes.
E penso se vale a pena tudo isso...de que adiante para os outros querer me entender, me decifrar?
E depois que eu morrer vai ser pior: vão criar varias teorias psicológicas, vão encontrar motivos, levantar suspeitas e vão escrever criticas.
Que pretensão a minha...dá até vontade de rir... Ninguém vai ler. Eu mesma daqui a algum tempo vou odiar tudo isso.
Deixo claro que não escrevo para ser entendida, sou mulher e isso para mim é algo ininteligível.
Escrever não me traz sono e não e deixa tranqüila. Escrever me traz agonia, inquietude, devaneio e dor de barriga.
Eu só escrevo porque não sei falar. Nasci muda para coisas inimagináveis.
E às vezes eu falo porque ainda não aprendi a escrever. Quem sabe um dia.
Escrevo mentiras que são verdadeiras e verdades que não passam de mentiras.E não vai adiantar perguntar o que é o que, eu não vou dizer. Só tenho um cúmplice nessa vida. Ele me disse que assumiria o risco até o ultimo suspiro do segredo.
E ainda que eu te contasse teria que matá-lo depois,ou antes, suicídios seriam cometidos. Não agüentariam o peso de guardar meus segredos, minhas mentiras e minhas verdades, meus medos, minhas dores, meus amores e meu desejos. Segurar minhas alegrias gigantescas e os dias de carência aguda. Escolhi pessoas a dedo paras esses momentos. Mas escrever eu escrevo para todo o mundo. Culpa daquele menino mal humorado que só me encoraja a fazer besteira. Umas delas é escrever.
Um dia eu venço essa fome, esse desejo incontrolável de falar o que não devo. Aí eu paro. Duvido.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Típico - Ana Paula Lisboa

Ouvi uma conversa estranha.
Típica de amantes dissimulados.
Típica de gente que não vale o prato que come.

Pesquei no ar...
Falavam de coisas loucas,de remédios,
De papeis, de suco.
E gargalhavam alto.
Principalmente ela.

Estava na cara o desejo de
Rasgar a roupa um do outro.
Dava pra ver nos olhos o
Desejo de orgasmos múltiplos.

E eles me deram nojo,
Me deram raiva, repulsa.
O cabelo escovado, o perfume caro,
Seções de beleza,
Nada disso lhe serve.

Olha lá, estão saindo...
Dissimulados!
E ela foi quem chamou.
Dissimulada!
Posso ouvir os gemidos daqui.

Olhos Azuis- Ana Paula Lisboa

Entrou, passou a roleta e eu fui obrigada a reparar.
Uma pele alva, uns olhos azul piscina.
Deve ser o calor.

Tirou a carteira do bolso e eu fui obrigada a reparar.
Reparei num cabelo bem preto.
Que contraste...
Reparei numa carteira marrom em sua mão.
Que contraste...

Braços peludos, camisa cinza, calça jeans, tênis.

Um olhar sem jeito.

O olhar fofocou o livro da pessoa ao lado,
Depois o olhar voltou-se para a janela.
Ele admirava o mar, montanhas verdes
E a Lagoa vista do Cristo.

Aí eu fui olhar...e só vi barracos...
Deve ser por causa dos olhos,
Fui obrigada a reparar.
Todo horizonte dele deve parecer o mar.

E eu fui navegando,
Viajando em um mar de possibilidades.
E eu não pude deixar de reparar que
Ele reparou na mulher que saltou.
Foi bobo. Ficou vermelho.
E eu levei um caixote.

Como nasce o sol- Ana Paula Lisboa

O sol nasce de manhã,
Lá por umas 5:30.
Tudo começa bem devagar.
Primeiro ele é azul, depois fica rosa e aí fica laranja.
O sol não nasce todo de uma vez, ele não rompe a manhã.
O sol é um cavalheiro.
Ele chega de mansinho, como um samba canção,
Pedindo quase licença.
Te faz um chamego, um cafuné.
A noite nem sente, quando vê já foi tomada.

Vi o sol nascer pela primeira vez.
Perdi outras 8030 vezes em 22 anos.
Ai se eu soubesse...

Imagine o primeiro nascer do sol, no Éden.
A terra era sem forma e vazia
E só havia trevas sobre o abismo.
Até que Ele fez a luz.
Viu que a luz era boa.
Mas Deus não faz nada que não seja bom...
Chamou a luz de dia.
Chamou as trevas de noite.
Mas aí...o próximo passo foi separar o dia e a noite.


Consegui o impossível.
Eu vi o dia e a noite, separados
Desde a criação, unidos.
Rompi a barreira do tempo e do espaço.
Eu era metade noite 20 e metade manhã 21.
Uma metade era eu a outra metade era ele.

Adão foi homem sortudo.
Viu o nascer do sol em um horizonte
Bem mais limpo que o meu.
O meu horizonte tinha prédio, tinha casa, tinha sobrado...
...e tinha ele...

Escrita louca essa minha.
Deve ser o sono que já me toma o corpo e a alma.
Mas o inacreditável daquele momento foi tamanho,
Que eu precisava te contar.

Descoberta- Ana Paula Lisboa

Descobri quando foi.
Foi no dia em que descobrimos que
Os dois conheciam a dupla e o Seu Nelson.

Foi no dia em que você me ligou de manhã cedo
Ou no que eu te liguei desesperada.

Foi na primeira vez que li seus versos.
Sim, foi naquele dia.

Foi no dia em que eu quis ficar mais um pouco
Ou no que eu quis sair correndo.

Acho que foi na primeira vez que descordamos
e realmente isso me pareceu importante.

Foi quando eu achei você estranho e
Comecei a reparar em pequenos detalhes.

Foi no dia em que eu não parei de falar
Ou no dia em que eu não sabia o que dizer.

Ah, claro!
Foi no dia em que o coração disparou com “CA-HAM”.

Foi quando eu gostei de ser chamada pelo apelido
Ou quando eu adorei o seu.

Foi quando eu passei a ter que ouvir aquela
música todos os dias.

Foi quando eu reparei que em dias específicos da semana,
As tardes eram mais tristes pra mim.
E em dias, também específicos, eu
Ficava mais ansiosa que o normal.

Foi no dia em que eu quis escrever
Ou na vez em que eu quis parar de escrever.

Será que foi no dia da batida de carro?
Não, não, isso foi antes.
Mas foi engraçado.

Já sei.
Foi no dia em que você me contou suas mazelas.
Não, também não.
Nesse dia eu só fiquei curiosa.
Então foi na vez em que te dei um susto. No ônibus, lembra?
Ou não foi essa vez? Acho que já tinha acontecido antes disso.

Foi quando você me chamou de nuvem, obvio.
Não, foi no dia das revelações, do primeiro
Guardanapo escrito.

Foi no dia em que senti frio?

Mas espere...será que foi só hoje?
Mas eu podia jurar que havia descoberto,
E só por isso resolvi escrever.
Mas agora, escrevendo, desaprendi tudo de novo.

Sei lá.
Vai ver foi tão rápido que não deu tempo da mente registrar.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Poema da falta de luz- Ana Paula Lisboa

À noite todo os gatos são pardos.
Quem me dera...
A noite é dos amantes.
Quem me dera...
A noite é dos bêbados.
Quem dera...

O escuro me pertence, me persegue,
Me acompanha.
O escuro está sempre próximo a mim.

Que farei, pois, no escuro?
Escreverei, ora essa...
Escreverei a luz de velas
Como os companheiros de outrora.

A luz se foi, mas deixou estrelas.
Quem falou que podia ouvir estrelas?
Um louco apaixonado, por certo.
E eu as fico mirando, esperando que
Digam algo.
Cruzeiro do Sul, me mostre o caminho!

Vou acabar cansando e dormindo.
A vela vai cair, vai queimar o colchão,
Vai queimar a casa toda.
Desculpe, escapou. Falei demais...

Tudo bem...
A noite nunca dura para sempre e
A falta de luz também não.
Basta de noites escuras, basta de Lobos.

Poema para quando a luz voltou- Ana Paula Lisboa

Eu não vou para a luz.
Eu prefiro continuar com as luzes apagadas.
Eu prefiro acreditar que nada aconteceu.
Eu prefiro a companhia da vela.
Eu escolho continuar a ver mais estrelas que o normal.
Por que estão gritando?
Meu Deus, isso foi um rojão?
Eu escolho a emoção das formas retorcidas, da
Penumbra, do olhar mais atento ao chão.
Eu escolho o não saber o que se pode encontrar.
Eu prefiro a pupila dilatada.
Eu prefiro o escuro, eu prefiro o negro.
Eu prefiro o risco de ter uma vela em cima da cama.
Eu gosto do bicho papão

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Copos - Ana Paula Lisboa

Sim, copos se quebram. Ouvi isso hoje de um amigo e só agora atinei. É verdade, meu Deus, copos se quebram.
Quando criança quebrei vários copos, sempre os preferidos de minha mãe. Ela viu durante os anos a louça que ganhou de casamento ser quebrada pelo três filhos. Será que minha mãe ficou triste alguma vez? Claro que ela reclamava, brigava, me chamava de relaxada, desleixada... mas nunca a vi chorar por um copo quebrado. Minha mãe, em sua imensa sabedoria, já sabia o que só aprendi hoje: copos não duram para sempre.
Não adianta, por mais cuidado que tenhamos ao lavá-los ou guardá-los, um belo dia eles escapam de nossas mãos e a Lei da Gravidade vence. E não adianta querer esconder os cacos, dizer que não viu o copo, minha mãe sempre sentia falta e via nos meus olhos o que eu tentava disfarçar.
Mas existe uma chance. Minha bisavó, que por sinal ainda está viva, tinha duas cristaleiras em casa. Os copos eram lindos, reluzentes... e o espelho que ficava ao fundo do móvel fazia com que eles brilhassem ainda mais. Os copos mais lindos que já vi. A cristaleira ficava trancada a chave e a chave ficava trancada no guarda roupas dela. Mas para que tanto cuidado com algo que foi feito para quebrar? Minha bisavó tem uns 95 anos e aqueles copos tem pelo menos a metade da idade dela. Essa é a forma para os copos não se quebrarem nunca, é só não usá-los nunca. Fácil assim.
Cristaleira é móvel que nunca terei. Quero usar meus copos, quero usá-los muito. Quero quebrá-los por acaso, no susto e também quando der vontade. Se os gregos quebram pratos eu posso muito bem quebrar copos.
Minha mãe, sabia como sempre, depois que minha terceira irmã nasceu, cansou de ter copos quebrados, agora é tudo de plástico. Copos de plástico, pratos de plástico. Felizes são os talheres! Eles não se quebram fácil, podem ser usados sem medo.
O coração é como um copo de vidro. Perdoe-me, não queria induzi-lo a fazer analogias, ou metáforas, ou comparações. Mas precisava dizer só isso. Use seu copo. Pode ser com um suco de manga, champanhe, caipirinha ou uma água gelada num dia quente. Use seu copo, não o deixe numa cristaleira, não o venda para um antiquário. Quando minha bisavó mudou-se para uma casa menor não pode levá-los e eu nem sei o que foi feito daqueles copos lindos, mas nunca usados.
E se ele um dia quebrar não tente esconder os cacos ou disfarçar. Sempre há alguém que percebe, dá falta do copo. Esse amigo de hoje encontrou meus cacos no lixo, e nem precisou me olhar nos olhos. E foi tão gostoso quando eu pude confessar a ele: “ Amigo, quebrei meu copo.” Aí ele me pegou pela mão, me levou pra almoçar e me deu, sem que eu pedisse, um copo novo.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Velha - Ana Paula Lisboa

Eu estou velha
Demais para brincar
De bonecas.
Estou velha o
Suficiente para aprender
A andar de bicicleta.

Já está na hora da
Nostalgia chegar.
De pensar nas historias
Que contarei para
Os meus netos.
E talvez não sejam muitas,
É muito melhor contar
As mesmas todos os
Dias, em tons diferentes.

Não sou mais nenhuma
Adolescente para ter rompantes
Apaixonescos e ligar para os outros
De madrugada.
Sentir o coração saindo pela boca,
Só de ver o querido.
Isso é coisa de jovem...

Alias, sou uma senhora.
Uma senhora caquética,
Cheia de rugas, sem
Dentes, quase calva.

Vou contar minhas histórias
Da juventude.
As loucuras que fiz e as
Que queria ter feito.
Darei conselhos.
Saberei distinguir o bom
E o ruim, o certo e
O errado. E os mais novos
Me ouvirão, talvez aprendam
Talvez não.
Mas os mais velhos sempre
Tem razão.

E vou parar de ter picos
Hormonais que recarregariam
Celulares.
Vou ficar calma, serena.
Farei crochê na varanda
Me balançando em uma cadeira.

Lembrarei com saudades da dança,
Dos amigos, dos filmes,
Dos professores.

Chorarei pelos sonhos
Nunca realizados e me
Alegrarei com certeza,
Por que viver já é um sonho.

E vou ter varias estantes
De livros.
Quem sabe algum com
Meu nome na capa.
Vou reler os que leio hoje
E vou achá-los diferentes.
Vou me ver outra pessoa.

E vou morar onde eu
Possa ver mais estrelas
Que luzes e a lua cheia pareça
Um farol e nas manhãs eu ouça
As folhas caírem ao chão.
Talvez eu viva sozinha lá, eu
E minhas lembranças.

Deixa - Ana Paula Lisboa

Não fale nada, por favor.
Deixe tudo assim, do jeito que está.
Me deixe ficar com as impressões do hoje.
Com cada palavra, com cada gesto,
Com cada trova.
Com aquela pinta nova que encontrei...
Com cada história que nunca imaginei...

Deixe que eu saboreie um pouco
Mais antes de despertar.
Deixe eu ouvir o eco da sua voz nos meu ouvido
Um pouco mais antes do barulho voltar.

Por favor, não me deixe acordar.
Me deixe ficar assim... no ar...
Não deixe o amanhã chegar, não deixe
A hora passar, por favor, não deixe
O ... acabar.
Eu imploro,
Não deixe a condução me levar.

Me faça parar de falar, me beije logo.
Me esquente. Me olhe nos olhos.
Tudo bem então, mas segure pelo menos minha mão.

Por favor, não tenha vergonha.
Eu estou aqui, não estou?
E amanhã quando o sol voltar eu
Vou estar lá, no mesmo lugar,
Esperando só por esperar.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Parada - Ana Paula Lisboa

Quero parar de escrever.
Quero parar de sentir o coração apertado.
Quero parar de sair de casaco.
Quero parar de acordar de madrugada
com a sua musica na cabeça, antes que eu enlouqueça.

Quero parar de fazer sem querer.
Quero parar de fazer o que eu não gosto.
Quero parar de fazer só por que você quer.
Quero parar de fazer só por fazer.

Quero parar de ter sonhos estranhos.
Quero parar de ter dor de cabeça,
Parar de tomar remédio.
Quero parar de esquecer de tomar o remédio.

Quero parar de ouvir musica em inglês.
Quero parar de assistir aulas chatas.

Quero parar de ver o sol através do insufilme,
Parar de sentir frio, parar de rir do seu riso.

Quero parar de não ter tempo para ler Freud,
Para ler Machado, para ler Adélia, para ler a Bíblia.
Para ler a mim.

Quero parar de usar sapato apertado,
Parar de ter calos, de ter bolhas, de engolir sapos.
Quero parar de ficar calada pensando e parar
De falar sem pensar.
Quero parar de te perturbar, de te ligar e de
esperar só por esperar.

Quero parar de dormir.
Quero parar de comer.
Quero parar de em papeis soltos escrever.

Quero parar de usar esse sibilar só
Pra cariocar e o sotaque carregar.

Quero parar de mentir,
Principalmente pra mim.
Quero parar de ser chata e exigente,
Principalmente comigo.
Quero parar de escrever fora da norma,
De escrever fora do clima,
de inventar rimas desconhecidas.

Ajeitado - Ana Paula Lisboa

Terceiro sinal.
Luz vermelhoalaranjado.
Uma caneta Bic que fala e toca violão.
Ele não está a fim de aquecer, nem nada.
Choro antes, choro depois.
Falta de ar...balões de oxigênio.

E eu seguro minha mão na sua, pela primeira vez,
Como se fosse a ultima, como se fosse a nossa vez.
Mas você é tão frio e o seu gelado é o que mais
Me arrepia...é o nosso ultimo dia aqui nas nuvens,
Nuvens brancas que cheiram a fumaça...

Parar de escrever pra que?
Planos para o futuro que é hoje.
Covarde aqui nós num conhece.
Agora é quase a hora.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Viciada - Ana Paula Lisboa

Eu estava esperando por isso.
Eu desejava isso há meses, talvez anos.
Eu queria que acontecesse.

Eu queria ter motivos.
Eu quis ter vontade.
Na verdade eu procurei, desculpe,
A culpa é toda minha.
Eu quis muito antes de você.

E agora eu quero mais.
Viciada.
E com o tempo eu vou precisar
de doses maiores, mais potentes.
Será que você vai querer também?

Se você quiser eu dou.
Dou sim.
Mas é melhor não,
Você pode viciar também

Resposta - Ana Paula Lisboa

Quem me dera poder responder a
Altura do som que mereces.
Mas não teriam vozes suficientes no mundo.
Não poderia atinar vocábulo em qualquer língua existente.
E tão pouco o uivo mais triste de um lobo sem matilha
Descreveria minha humilde resposta.

Queria escrever-te um poema parnasiano, onde
A forma importa bem mais que o pranto.
Mas o teu querer me encanta mais que tua forma.

Quem sabe um soneto escrever-te?
Não, sonetos são de amor.
Não posso atrever-me a declarar que amo,
Seria muito para mim e para vossa mercê.
Mas amo o que escreves.
Amo a sutileza do que leio com o coração na boca.
Uma vez logo pela manhã, e depois milhares de vezes
Durante vários dias.

Caríssimo, se é que posso assim chamar-te,
Não negue-me nada, não mate-me nada.
Nossa forma é clara.
Implicante e dissimulada.
Dialógica.

Pois só escrevo por que me mandas.
Somente sonho, pois ouço
Tua voz todas as noites.
Viciei-me em ti.
Oh, meu Deus! O que digo?!
Declarei-me a ti?
Disse a ti o quanto desejo-te?
Louca que sou...
Perdoe-me se bebo, se enlouqueço...

Mas ainda assim minha resposta
É curva e insegura.
E não se compara ao tamanho dos teus versos para mim.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Bêbada - Ana Paula Lisboa

Vou perguntar uma só vez e vou querer uma resposta rápida.
Gritada bem alta.
Se gritarem eu vou gritar junto.
Gritar que odeio momentos especiais.
Odeio pizza...
Odeio a vontade que eu sinto de te beijar...
Odeio você fingir que não sabe...

Vou gritar também que nada é perfeito.
Que o mundo é uma droga
E que esse lugar é um outro mundo.
Me irrita sentir fome...
Me irrita você olhar assim pra mim...
Mas o que mais me irrita é essa fome de escrever
E não encontrar palavras.

É só conseguir dizer versos toscos,
Medrosos, escusos, sem nexo.
Pouco acadêmicos e
Pouco inteligentes.
Escritos na mesa de um bar

Dia VI - Ana Paula Lisboa

Foi como se fosse a primeira vez.
Não, foi muito melhor que da primeira vez.
Foi muito mais feliz,
Foi muito mais olho no olho, foi com muito mais propriedade.

Ali, hoje, eu não era mais eu. Eu era ela, e
Ela era eu, ainda que nós fossemos tão diferentes.
Ela da roça.
Eu da cidade.
Ela teve cinco.
Eu só quero ter um.

Mas agora não existo mais eu.
Agora somos nós. Foi por osmose.
Agora meu nome é o nome dela.
Eu não a escrevi,
Ela me escreveu de novo.

Dia V - Ana Paula Lisboa

Pessoas e momentos especiais.
Platéia linda, flashes e gritos.
Sorrisos, muitos sorrisos.
E uma alegria pela morte sem tamanho.

Claro que bate a melancolia
De ser o penúltimo dia,
Ainda mais em quem adora uma melancolia.

Mais a alegria, como devera de ser, permanece
Maior.
Hoje é dia de folia.
Depois se pensa na quarta-feira de cinzas.

Dia IV - Ana Paula Lisboa

Felicidade de borboletas.
Aquelas que voam de flor em flor. Presença de todos os dias.
Mas com cores diferentes, com olhos diferentes.
E com gargalhadas diferentes.

Conversas loucas e gargalhadas sem motivos.
O melhor é que tudo terminou bem.
Apesar da morte, apesar das águas
Todos vieram me ver.
Até os que não conheço.

Massagem nas costas,
Remédio pra dor de cabeça,
Choros e velas.

Assegurar-se até onde se pode e
Se brilha mesmo assim.
Existe somente a coreografia certa pra hoje.
Tremer no palco...
Transformar falta de equilíbrio em salto.Vamos... é hora

Dia III - Ana Paula Lisboa

E mais um dia e todos os dias
E mais um dia.


Ouvi um “Que isso?!”
Uh...Hu...lindona, gostosa,
Incrível... só imaginei.
Um dia de ceia, um dia de Páscoa.

Um dia de forró juntinho antes das 20:30.
De espera por aquele momento
Em que a gente se encontra no
Nosso cantinho mágico em meio
A nuvens e a escuridão.

Dia II - Ana Paula Lisboa

Revelam destinos e felicidades
Com o fio da vida cheio
De privilégios. Cheios de tudo
E todos cheios do mundo.

Dias todos iguais lindos,
Lindos...
Expressões de felicidade
De gente linda e perfeito.
Sem erros, suaves como fumaça.

E a musica era forte, gritante
Que me fazia sorrir.
E cada pessoa que chegava
Me fazia ainda mais feliz.
E no fim palmas, só plamas.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Dia I - Ana Paula Lisboa

Se as coisas falassem por mim,
Se as pessoas falassem de mim,
Se meus amigos soubessem de mim.
Diriam que sou fraca,
Diriam que sou má,
Diriam que sou feia.
Diriam que é melhor que eu morra.
Não teriam nenhuma esperança,
Não sentiriam nenhum carinho,
Não choraria com a que chora.
Diriam que sou fria, que sou psicótica,
Calculista, que não presto pra nada,
Que não sirvo pra nada.
E todos ririam de mim.
Ririam do meu sentimentalismo, da
Minha voz esganiçada, de meu
Nariz de negro, das
Minhas celulites.
Ririam de eu existir, de eu ter nascido.
Ririam principalmente das coisas que
Escrevo.
E eu adoraria.

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