segunda-feira, 26 de abril de 2010

Quando eu resolvo escrever- Ana Paula Lisboa

Estive pensando em parar de escrever. Não que eu ache isso algo possível, mas escrever tem me trazido muitos efeitos colaterais.
Meus dentes se trancam, minha testa franze, mordo os lábios, a cabeça dói e a insônia, antes inexistente, tem se tornado constante. As noites não são mais como antes.
E penso se vale a pena tudo isso...de que adiante para os outros querer me entender, me decifrar?
E depois que eu morrer vai ser pior: vão criar varias teorias psicológicas, vão encontrar motivos, levantar suspeitas e vão escrever criticas.
Que pretensão a minha...dá até vontade de rir... Ninguém vai ler. Eu mesma daqui a algum tempo vou odiar tudo isso.
Deixo claro que não escrevo para ser entendida, sou mulher e isso para mim é algo ininteligível.
Escrever não me traz sono e não e deixa tranqüila. Escrever me traz agonia, inquietude, devaneio e dor de barriga.
Eu só escrevo porque não sei falar. Nasci muda para coisas inimagináveis.
E às vezes eu falo porque ainda não aprendi a escrever. Quem sabe um dia.
Escrevo mentiras que são verdadeiras e verdades que não passam de mentiras.E não vai adiantar perguntar o que é o que, eu não vou dizer. Só tenho um cúmplice nessa vida. Ele me disse que assumiria o risco até o ultimo suspiro do segredo.
E ainda que eu te contasse teria que matá-lo depois,ou antes, suicídios seriam cometidos. Não agüentariam o peso de guardar meus segredos, minhas mentiras e minhas verdades, meus medos, minhas dores, meus amores e meu desejos. Segurar minhas alegrias gigantescas e os dias de carência aguda. Escolhi pessoas a dedo paras esses momentos. Mas escrever eu escrevo para todo o mundo. Culpa daquele menino mal humorado que só me encoraja a fazer besteira. Umas delas é escrever.
Um dia eu venço essa fome, esse desejo incontrolável de falar o que não devo. Aí eu paro. Duvido.

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