quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Para um amigo que fiz no escuro – Ana Paula Lisboa

Como ninguém pôde eu posso.
Eu pude e achei que poderia sozinha,
Mas encontrei outros que também puderam comigo.
Um em especial:
Sentou-se ao meu lado e me deu de comer:
Frango e batata frita.
Sem nem ao menos saber que me apaixono
Por quem me dá de comer.
Ele comentava alto,
Me cutucava,
Perguntava das partes que não entendia
E isso me pareceu tão bom que eu só sorria.
Ficamos íntimos
Sem nem ao menos saber seu nome.
E já havia esquecido o meu a essa altura.
Foi um encontro às escuras e
Como eu estava sentada
Ele não pôde olhar minha bunda
E tirar conclusões precipitadas.
Foi obrigado a me olhar nos olhos
Logo no primeiro encontro.
Eu poderia sentir saudades dele,
Desse que alegrou a minha noite
E que fez de um filme sem beijo na boca
Parecer um romance.
É uma pena ser ele tão descartável e
Nem ao menos saber
Desses versos a ele dedicados.

6 comentários:

  1. Tenho tido alguns descartáveis. Tenho medo disso. Um dia serei eu a descartada. E aí, como ficarei? Também escreverei sobre isso?
    Bj, Ana. Te amo sempre.

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  2. Escreverá sim, provavelmente, porque a gente é dessas. Mas não tenha medo não, sempre procurei um amigo descartavél...a gente se mostra toda e não precisa ficar explicando, são sempre sinceros e melhor: podemos ser qualquer coisa junto deles.
    Bjus e obrigada pela visita...

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  3. ... ele não pode olhar minha bunda ... teve que olhar nos olhos ...

    Gostei dessa parte.

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  4. Caraaaaaaljo, muiito gostoso ler esse texto de manhã, tentarei lê-lo de tarde e a noite pra ver se a sensação muda, de acordo com a áurea do dia.

    Demais, a levada. Um misto de Bananada com Elisa Lucinda!

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  5. —:> Taí, Ana, gostei de te ler. Eu não sou nem um poetejo quanto mais poeta, quando muito perpetro vez ou outra alguns textículos pelaí. Mando esse:

    Encontraram-se no portão do condomínio. Ele entrando ela saindo.
    Porteiro despedido por medida de economia.
    Há muito não se viam assim tão de perto. Ela com olhos de corça assustada, passou rente dele enquanto cruzava o portão que ele mantinha aberto. Ele ficou sem saber definir o que ela expressava…
    Demorou uma eternidade afogando-se naquele olhar.
    Criou coragem e disse assim de supetão: — Fiz uma poesia pra você…
    Ela fez de conta que nada tinha escutado e nem olhou pra cara de bocó de mola que Abel assumiu quando bateu o portão em cima da unha do dedão.

    Saudações heréticas de Jacacity,
    Ruy.

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