segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Água de beber - Ana Paula Lisboa

Quando eu estou nervosa eu bebo água. Nada mais me acalma e tranqüiliza. Nem chocolate, nem música clássica, nem abraçar uma árvore, nem mesmo dar berros estridentes e tão pouco quebrar todos os meus pratos.
Não. Quando eu tô nervosa eu bebo água. Encho meu copo de 500ml e respiro fundo no intervalo de cada golada.
Eu gosto da água porque a água não tem gosto, não tem cheiro e não tem cor. E a não-cor da água me acalma. E o não-cheiro da água me tranqüiliza. E o não-gosto dela me sacia.
A água não me atrai em nada e é por isso que gosto dela. Se a água tivesse cor, fosse cheirosa e gostosa eu teria problemas.
Eu ficaria com saudades dela, eu pegaria o metrô errado pra vê-la, eu pensaria em água o tempo todo mas quando a visse eu ficaria parada sem saber se bebo a água ou não.
Graças dou à Deus, que fez a água tão sem graça a ponto de eu escrever para ela.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Categoria - Ana Paula Lisboa

Depois de tanto tempo me veio o novo:
Conversas mesmas de lábios novos,
Lugares novos em relações antigas,
Siglas desconhecidas,
Mãos claras e macias.
A saliva tinha gosto de saliva mesmo,
Misturada com bolo de laranja.
O cheiro tinha cheiro de cheiro mesmo,
Cheiro de gente gostosa que toma banho
Todos os dias.
As categorias ficaram confusas em mim:
O ponto de ônibus podia ser uma bota,
Suco de cupuaçu e suco de acerola
Tinham o mesmo gosto,
O 238 e o 247 faziam o mesmo caminho,
As conversas não faziam nenhum sentido e
O silencio fazia a minha boca gritar pedindo socorro.
Na próxima vez as coisas serão mais serenas:
Eu pagarei a minha divida com gosto,
Não vai ventar frio,
Mas eu acho que o meu silencio vai permanecer,
Pois é no silencio que as coisas acontecem.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Tara - Ana Paula Lisboa

Nutro uma paixão, nada secreta, por poetas.
Homens e mulheres.
Minha tara é puramente antropofágica.
Eu adoraria come-los e adoraria mais ainda dar pra eles.
Esses poetas contemporâneos têm o poder de deixar a
Minha respiração ofegante e fazem com que as minhas coxas se
Contraiam, uma contra outra.
Outro dia cantarolei o mesmo verso de um desses
O dia todo,
Baixinho no ônibus de manhã e depois gritando no chuveiro à noite.
Um poeta me obrigou a roubar.
Roubei um beijo dele e depois lhe disse baixinho
No ouvido mentiras obscenas.
Como castigo nunca mais dormi um sono tranqüilo,
Fico a noite toda com os poemas dele na cabeça.

Sem tempo pra escrever - Ana Paula Lisboa

Pronto.
Consegui parar o mundo pra te escrever.
E eu tinha tanta coisa pra dizer,
Mas o tempo passou e eu esqueci dessas coisas.
Então vou ter que escrever coisas novas,
Coisas que nem eu sei quais serão.

Seguidores