sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Flowing - Ana Paula Lisboa


Tomara que nossa relação seja assim, leve, levemente pra sempre.
Tomara que um dia, de tão leve, a gente possa até voar.
Tomara que você seja as minhas asas e que eu seja as suas.
Tomara que eu seja tua!
E sendo tua tomara que eu possa ser bailarina e você seja jogador de futebol.
Tomara que eu seja o Bebeto.
E tomara mais ainda que a beleza nunca nos abandone.
Tomara!

Quase - Ana Paula Lisboa


A noite não foi assim:
Perdi Jorge, perdi os pretinhos, me perdi dos amigos, quase perco a vida em Santa.
Só não perdi o desejo de vê-lo.
E na verdade vi:
Cutucando o ombro de outras, bebendo tanto quanto eu e com o Iphone desligado.
Ah, Iphone-me, Novembro-me...
A gente não namora, mas quase.

domingo, 21 de outubro de 2012

BALDE


Sentaram ao redor da mesa, já as gargalhadas. Riam como se a rua fosse só deles. 1:13 da madrugada, já era quarta, mas um do grupo convenceu a todos de que o futuro não existia e que o tempo não precisava ser medido.
O primeiro balde, vermelho, cheio de gelo em cubos envolvendo 7 cervejas geladíssimas que seriam bebidas por puro divertimento. Ninguém parecia ter sede. As gargalhadas só aumentaram e depois de uma declaração de amor, em que até a lua, encoberta por nuvens, resolveu aparecer, eles se sentiram também donos do céu.

não-relação

uma porta
uma parede
uma menina
um menino
um olhar
um copo de vidro
um menino 
uma menina
uma porta de madeira
uma mão
um corpo
um corpo
dois corpos
tremulos

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Prece - Ana Paula Lisboa



Hoje ascendi uma vela e pedi.
Pedi não pela alma dele, pedi pelo corpo.
Pedi para que seu corpo sobreviva.
Pedi para que as 14 ligações da madrugada
não fossem noticia de morte, matada
ou morrida.
Pedi para que um homem preto de 50 anos, que nunca teve problemas com a polícia,
não tivesse que visitar o filho preso, no dia do aniversário.
Pedi para parar de soluçar.
Pedi para que o tempo voltasse, o tempo em que eu cantava, o tempo da roupa azul,
do primeiro filho homem, da chupeta perdida,
do pano verde.
Um homem no ônibus me viu chorando, ele tinha o cabelo verde.
Coincidência.
Pedi muito para que a policia não entrasse na casa de telhas, não quebrasse tudo,
não esculachasse minha mãe,
não colocasse pavor na minha irmã,
não achasse drogas e não nos olhasse nos olhos como se a gente fosse mais um bando de favelados
e bandidos.
Pedi tanto pra ter estado lá nessa hora!
Pedi para parar de chorar e me culpar por não cumprir as obrigações de quem nasce primeiro.
Pedi encarecidamente para o que único Severino que tivesse entrado na família fosse
o que eu namorei há uns anos e para que nenhum Padre destrua nossa vida.
Mesmo sabendo do erro, em momentos pedi para que ele morresse.
Porque aí talvez houvesse paz, mas eu sei que não, a paz não se faz tão fácil.
E sei ainda que talvez ele morra sim, mesmo sem eu pedir.
Por fim não pedi por ele, pedi por mim, pela minha casa,
por todos os jovens pretos, buchas do tráfico,
favelados de 17 anos que fazem seu pai, irmãs, mãe, tia, prima, madrinha e cunhado
pedirem a Deus por eles.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Obrigada - Ana Paula Lisboa


Não sou obrigada a nada, e me obrigo a não ser obrigada!
Não sou obrigada a tomar banho, pentear o cabelo, escovar os dentes.
Não sou obrigada a sair e nem a ficar.
Não sou obrigada a votar no Freixo, não sou obrigada a me especializar em alguma especialidade.
Me obrigo a escrever... mas não sou obrigada a ter certezas nem duvidas e nem a fazer da minha escrita uma coisa que faça sentido pra você.
Não sou obrigada a falar, a calar, acordar cedo ou dormir tarde. Não sou obrigada a beber, a fumar, a ler, a te amar...
Não, não me obrigue a falar de amor.
Pronto, falei. E já que falei então não sou obrigada a parar. Não me obrigue a te querer, por favor, não me obrigue a ser engraçada quando estou contigo, porque minhas piadas são péssimas. Nem me obrigue a rir das suas piadas, das confusões que você faz com a ordem dos meses do ano.
Não me obrigue a desconstruir meu discurso sobre felicidade e liberdade que a vida me obrigou a construir.
Não me obrigue a nada, porque não posso ser obrigada.

Sorriso de boba no canto da Boca - Ana Paula Lisboa


Maldito Babaloo, que não faz bem pros dentes, não faz bem pra nenhuma parte do meu corpo. Eu tentando sair da resistência para a afirmação pois o importante não é o significante mas o significado da sua língua áspera junto da minha. Da batata frita, da asa da galinha, da brama gelada. O importante sou eu te explicar como escrevo as minhas poesias, sou eu dizer da dialética do Iluminismo, de Fromm, de para, de onde caiu a tarraxa do brinco. Eu quero é ouvir Legião Urbana e ver o jogo do Botafogo toda a quarta feira, só camisa 10. Viva eu! Viva tu! Viva Barthes! Viva a barriga descoberta, viva o peito desnudo. Viva meu sorriso de boba no canto da boca...

Sofá de Couro - Ana Paula Lisboa

eu sou preguiçosa, molenga, lerda, lesada. gosto mesmo é de ficar jogada no me sofá de couro. me apaixonei por sofás de couro quando fui a casa dele: era chegar, dar boa tarde, sentar, me derreter, ouvir historias sobre as crises no relacionamento com a namorada, sobre os amigos em comum, filosofar, exclamar da falta de dinheiro, reclamar da chatice e da alegria de ser jovem em 2010. eu sempre acabava cochilando uns 10 minutos abraçada ao sofá. as vezes a gente se beijava, as vezes a gente se lembrava que era melhor não.

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